-Ei! – ele virou-se, checando os bolsos freneticamente – eu
esqueci minhas chaves aí?
Passei uma mão no cabelo, e me sustentei com a outra, apoiada no trinco
da porta. A voz dele me fazia perder o equilíbrio.
-Eu esqueci minhas chaves aí? – ele tentou mais uma vez, se aproximando.
Seus olhos eram tão lindos, tão verdes. Eu os via com nitidez, já que
ele me encarava, se perguntando o que eu tinha.
-Ei, to falando com você!
Nossa. Será que ele sabia tudo o que eu sentia naquele momento? Acho que
não, ele só me via como amiga mesmo.
-Agora é sério, estou atrasado.
Será que eu deveria falar tudo? É, eu vou falar.
-Por que você não me responde?
Não, eu não posso fazer isso. Eu vou estragar tudo.
-EEEI! – ele estalou os dedos no ar, me chamando de volta para a
realidade. Soltei o trinco da porta e cruzei os braços, tentando não deixar
transparecer que estava nervosa.
-Você, hein? Seu esquecido! Estão ali, em cima da mesa.
Fui buscar as chaves e lhe
entreguei-as. Ele agradeceu, deu um beijo na minha bochecha e saiu. Tive
vontade de gritar depois:
‘Na verdade você não esqueceu só as chaves, esqueceu de mim!’
Mas eu não era louca de fazer aquilo. E mesmo que o fizesse, ele não
escutaria. Provavelmente já teria entrado no elevador.